
Coreógrafa carioca é um dos destaques da edição 2025 do Movimento Internacional de Dança, que acontece até 19 de outubro, em Brasília
“Ah, eu tô muito feliz em trazer o espetáculo Puff. A gente acabou de estrear na Europa e, muitas vezes, demora para conseguir se apresentar no Brasil. Com Puff, é diferente: vamos estrear no MID, o que é muito bom”, conta Alice Ripoll, coreógrafa carioca que chega ao MID (Movimento Internacional de Dança), em Brasília, com três criações que dialogam profundamente com corpos e vozes periféricas.
Depois de passar pelo Festival Fringe de Edimburgo, na França, Puff fez sua estreia nacional no dia 5 de outubro, às 19h, na Sala Multiuso Túlio Guimarães. No palco, o dançarino Hiltinho Fantástico explora o passinho e outras danças brasileiras para investigar o conceito de “disfarce”, dispositivo presente nas danças da diáspora africana como forma de resistência e transmissão de culturas silenciadas.
A presença de Alice no MID (Movimento Internacional de Dança) é marcada também pelas montagens aCORdo (7 e 8 de outubro, na Galeria IV do CCBB), em que quatro artistas negros encenam uma negociação simbólica de dignidade, e Zona Franca (9 de outubro, no Teatro CCBB), um mergulho em linguagens da dança urbana e popular, construídos ao longo das trocas entre Alice e os bailarinos, oriundos dos projetos sociais em que deu aula, resultando na criação das companhias.
“Esses encontros foram acontecendo de forma natural. Primeiro em projetos sociais, depois em experiências que reuniram artistas das comunidades e a dança contemporânea. Nunca foi uma busca intencional de formar companhias, mas uma necessidade que nasceu do desejo deles de dançar e da nossa troca criativa”, relembra Alice.
Essa troca é o que garante que suas criações dialoguem com públicos diversos, sem barreiras elitistas ou exclusões. “A gente consegue criar uma cena que pode agradar a um público mais acostumado com a dança contemporânea, mas também acolher quem nunca tinha pisado num teatro. Para mim, sempre foi importante que as pessoas se sentissem contempladas e não saíssem deslocadas”, explica.
Para os bailarinos, muitos oriundos de comunidades do Rio de Janeiro, o processo também significou atravessar fronteiras e ocupar espaços que antes pareciam inalcançáveis. “Esses artistas talvez pensassem que a dança deles não seria contemplada ou valorizada. O MID mostra justamente o contrário: que suas histórias e técnicas são essenciais para repensar a cena contemporânea e ampliar os olhares sobre a arte”, resume Alice.