Com exibição única e gratuita no Sesc de Taguatinga Norte, Guylherme Almeida dramatiza, em ficção científica, tragédia ocorrida com pai na periferia do DF

Após grande estreia em Brasília e no Rio de Janeiro, o espetáculo teatral Ípsilon chega a Taguatinga levando uma ficção científica baseada em tragédia real ocorrida em aterro do Distrito Federal. A obra com um pé no espaço sideral e outro nas mazelas terrestres terá exibição única no palco do Teatro Paulo Autran em 29 de Outubro, às 20h. Entrada gratuita.
Autor do espetáculo, Guylherme Almeida retrata o drama ocorrido dentro da própria família. O pai do curador e dramaturgo foi queimado vivo queimado vivo em cemitério de pneus no Riacho Fundo I.
Construída a partir de vivências nas favelas de Brasília e Recife, a peça estreou no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e depois foi encenada no palco carioca do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Por onde passou, teve ingressos esgotados e fila de espera em todas as sessões, além de arrancar elogios da crítica especializada.
Tragédia Real
Em setembro de 2022, o G1 noticiou: “O corpo de um homem de 47 anos foi encontrado carbonizado no Riacho Fundo I, no Distrito Federal.”
A matéria não informa, mas o homem encontrado carbonizado era o pai de Guylherme Almeida, experiente produtor cultural e curador de eventos de grandíssimo porte na capital do país, como o Aniversário de Brasília, Réveillon de Brasília e o Festival Ibero-Americano de Artes Integradas. Esse trágico acontecimento é uma das camadas dramatúrgicas que o espetáculo “Ípsilon” aborda.
Antes mesmo de perder a figura paterna — que foi queimado vivo em um cemitério de pneus na periferia do Distrito Federal — Guylherme já estava debruçado sobre a trajetória de figuras negras importantes, como Carolina de Jesus, Mae Carol Jemison e Judith Jamison, com o objetivo de escrever um espetáculo autoral sobre as conquistas da população negra e os desafios que corpos dissidentes enfrentam ao ingressar em uma espécie de vida burguesa. No entanto, esses estudos foram atravessados pelo assassinato do pai e, em vez de vivenciar o luto à distância, ele optou por incorporá-lo ao processo criativo.
Assim surgiu a protagonista Carolyna (com ípsilon), uma astronauta bem-sucedida que retorna à sua cidade natal em uma missão de trabalho e descobre que o município onde nasceu foi reduzido a um aterro sanitário de pneus. Coube à atriz Juliana Plasmo interpretar essa astronauta, capaz de viver no espaço, mas incerta se conseguirá sobreviver em sua terra natal, limitada pela fumaça, pneus e abandono, em analogias que parecem perpassar, em alguma medida, toda a narrativa preta.
Crítica especializada
“Em Ípsilon, a proposta estética chama a atenção por dialogar de forma intrínseca com a dramaturgia. Os pneus, parte da cenografia, também assinada por Almeida, ganham um significado profundo. Eles não são meros objetos de cena. Além disso, o desenho de luz de Ana Quintas explora a caixa preta e cria diferentes perspectivas e lugares. A variação de tons, alternando entre o lugar inóspito e a praia derradeira, contribui para a atmosfera da peça. A trilha sonora original de Miguel Mendes costura as cenas e permeia os relatos. Os figurinos, criados por Alê Santos, desempenham um papel crucial ao delinear a personagem como uma mulher forte, destemida e complexa. Notavelmente, a escolha do figurino para a cena final formula a insensatez social e individual diante do trágico fim. Por fim, é imprescindível mencionar a interpretação impecável de Juliana Plasmo. Contar a história de Carolyna e a morte do pai em cada sessão, como se fosse a primeira vez, exige uma técnica e maturidade artística consideráveis. A atriz demonstra tino, calma e domínio em cada fala e ação. É gratificante ver intérpretes tão entregues e capazes de se sobressair em trabalhos como esse, nos quais a visão do encenador também se faz tão presente. É elogiável a dramaturgia enxuta.” – Celso Faria
“Além da dramaturgia impactante, o espetáculo oferece um pungente cenário de pneus, que gera um desenho cênico como há tempos não se via no teatro brasileiro. O resultado é um sensível debate social, provocado por quem tem legitimidade e conhece, como poucos, a dor de não pertencer.” — Diego Ponce de Leon
Sobre o autor
Contrariando os indicadores sociais, Guylherme Almeida nasceu em um núcleo familiar precário, na periferia da capital federal, e, mesmo sem recursos financeiros, se tornou um dos produtores mais disputados do país, com mais de 100 produções no currículo. Depois de rodar festivais de teatro em todo o mundo, Guylherme (com ípsilon) voltou ao seu país disposto a encarar o desafio de sobreviver ao passado. Tal qual Carolyna.
Sinopse
Carolyna (com “ípsilon”), uma astronauta bem-sucedida que retorna à sua cidade natal em uma missão de trabalho, descobre que o município onde nasceu foi reduzido a um aterro sanitário de pneus. Durante o processo de criação de “Ipsilon”, o pai do diretor e dramaturgo foi queimado vivo. Esse ato trágico foi incluído no espetáculo de forma documental e é uma das camadas dramatúrgicas da peça, que também é uma ficção.
Ficha Técnica
Direção e Texto: Guylherme Almeida
Elenco: Juliana Plasmo
Trilha Sonora Original: Miguel Mendes
Iluminação: Ana Quintas
Figurino: Alê Santos
Cenografia: Guylherme Almeida
Comunicação Visual: Paulo Falcão
Consultor dramaturgia: Giordano de Castro
Coordenação de Comunicação: 2Oxe Comunica
Coordenação Administrativa: Isabela Ornelas
Produção Executiva: Paulo Falcão
Assistência de Direção: Filipe Lacerda
Assistência de Produção: Eliane Silva e Duda Gomes
Registro Fotográfico: Humberto Araújo, Jessica Lima e Will Lopes
Registro Videográfico: Marcelo Pontes
Rede Social: https://www.instagram.com/ipsilon.espetaculo/

Serviço:
Onde: Sesc Paulo Autran, Taguatinga Norte
Quando: 29 de Outubro, terça-feira (apresentação única)
Entrada gratuita
Classificação etária: 12 anos